quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pondo a Mão na Cabeça.


Babá, Babalorixá, Babatundé, Pai-de-Santo, Chefe de Terreiro, Coordenador e quantas mais, para se definir uma relação?

Num dado momento da vida, espontânea ou forçosamente, os seres sentem falta de algo, como se fosse um sinalizador para o seu aprendizado, quando teorias e práticas já não satisfazem os seus anseios conscientes ou inconscientes.

Tenho em mente, que o verdadeiro Mestre Espiritual de cada um, está em seu interior, acompanhando, torcendo, ensinando, protegendo, inspirando enfim, esforçando-se em conduzir-nos à novas expectativas e perspectivas de vida, nesta e em outras jornadas. Entretanto, num dado momento, estamos com uma “cegueira espiritual”, que não nos deixa enxergar determinados princípios e valores, visto que estamos mais sensíveis às energias não positivas, quais sejam: ira, leviandade, receio, soberba, egoísmo, arrebatamento e luxúria; que por estarem mais acessíveis através da forma e que são mais facilmente percebidas pelo nosso estado de instinto, nosso “estado animal”. Apesar do nosso crescimento através do conhecimento, aquilo que mais “toca a pele”, realmente, é o que mais move ou comove. Talvez, seja aquela característica de “São Tomé”, proporcionada pelas experiências que ferem e machucam, pois para se perceber e sentir os aspectos mais sublimes, abstratos, que são sutis, só com o aprendizado da vida ou melhor, de vidas...

Se o ser está num momento em que tem dificuldade de perceber, no próprio interior, princípios e valores, incansavelmente procurados através dos tempos, para construção de uma comunidade fraterna; bem como o desejo de compartilhar princípios construtivos, que poderão ser traduzidos através dos atributos da fortaleza, do respeito, do entendimento, da sabedoria, da justiça, do conselho e da pureza surge, para esse aprendizado de vida, o personagem do Mestre, que num dado momento é representado por um ser, que trás conhecimentos e experiências, vivenciadas nesta e em outras jornadas, para auxiliar aquele que se torna seu Discípulo a encontrar o seu verdadeiro Mestre, o Mestre Interior.

A figura do Mestre, quando não compreendida na sua essência, muitas vezes trás uma conotação disforme, especialmente quando se acredita em que não se está naquela posição, se está em uma “posição inferior”. O mais impressionante é quando são formatados estereótipos que se baseiam em uma relação de domínio e submissão, consciente ou inconsciente, onde se empregam a manipulação, coerção e domínio.

Por sua vez, deve-se ter em mente, que um Mestre, nas lides espirituais, não é um deus e muito menos um ser infalível. Também, deve-se ter em mente, que:

· O Mestre, por estar na condição de ser encarnado, tem limites.

· O Mestre pleno é mito.

· A presença do Mestre é sempre relativa em função de momentos diferentes.

· O Mestre pode ser real, um terceiro; ou aparente, o interior.

· O Mestre existe até o ponto em que ele é reconhecido como tal.

· O Mestre não procura Discípulos.



Logo, “para cada rebanho, haverá sempre o melhor pastor”...



Devido a heterogeneidade dos seres, a relação do Mestre com o seu Discípulo, é uma “via de mão dupla”, pois se existem vários Discípulos, existem conhecimentos, comportamentos, atitudes, experiências e vivências diversas. Portanto, o Mestre inteligente, também “tira a sua casquinha” de aprendizado.



"Pondo a mão na cabeça"

Nas muitas tradições, bem como no Movimento Umbandista, percebe-se a “filiação espiritual”, que poderá estar sendo construída através dos tempos ou atender em um momento específico as vontades superiores, concretizando uma relação, mesmo que efêmera, atendendo aos desígnios de Deus.

Quando surge a relação, Mestre e Discípulo, crê-se no início de a formação de uma egrégora de realidade, onde os seres são estimulados a perceber o quê, o porquê, o como, o quando e o onde, que fazem parte indissociável de consciências, de sentimentos e de ações. Mas, infelizmente, os seres ficam mais atentos aos aspectos “mágicos”, que na realidade são da forma, do que aos aspectos não mágicos, de natureza superior, que realmente farão a diferença no futuro. Assim, em função de cada Tradição, os ritos quando não percebidos como uma perspectiva de abertura para o crescimento individual, representando um portal ou degrau, tornam-se na realidade, um símbolo de domínio e submissão, que em muitos casos chegam ao absurdo da relação “senhor e escravo”, que por desinformação, muitos acreditam ser imutável, até a mudança da vontade daquele que o fez.

“Por a mão na cabeça” não encontrará ressonância se a “cabeça não for oferecida”, pois para ambas as partes, é um ato consciente, onde se pressupõe responsabilidades mútuas. E, por assim representar, é natural que haja nos grupos afins ou seja, aquele que coordena um grupo, “põe a mão na cabeça” e aquele que quer fazer parte do grupo, “oferece a sua cabeça”. Entretanto, deve ficar claro que os termos acima são simbologias, pois existem várias formas de se proceder nesta relação, mais ou mesmos dogmáticas, mais ou menos informais, mais ou menos ritualizadas e mais ou menos rápidas. Há de se compreender que, a relação paternal ou filial, como queira, pressupõe ensinamentos e trocas de conhecimentos, comportamentos e atitudes, visando o crescimento e descoberta interior, sempre.

Então, deve ficar claro que um pequeno ato, se não houver vontade de ambas as partes, não provoca a ligação, pois como seres individualizados, exercitamos a vontade. Em síntese, “por a mão na cabeça”, traduzindo a relação Mestre e Discípulo, promove a uma auto-descoberta.

Com votos de profunda paz na mente, alegria nos sentimentos e harmonia nas ações. Prosperidade, Força e Benção.



Mestre Thashamara
Um eterno aprendiz

Nenhum comentário:

Postar um comentário