sexta-feira, 11 de junho de 2010

AS SETE LÁGRIMAS DO PAI PRETO


AS SETE LÁGRIMAS DO PAI PRETO
Foi uma noite estranha aquela noite queda; estranhas vibrações afins
penetravam meu Ser Mental e me faziam ansiado por algo, que pouco a pouco
se fazia definir... Era um quê desconhecido, mas sentia-o, como se estivesse
em comunhão com minha alma e externava a sensação de um silencioso
pranto...
Quem do mundo Astral emocionava assim um pobre eu?
Não o soube, até adormecer e... "sonhar".
Assim, vi meu "duplo" transportar-se, atraído por cânticos que falavam de
Aruanda, Estrela Guia e Zamby; eram as vozes da SENHORA DA LUZ VELADA,
dessa UMBANDA DE TODOS NÓS que chamavam seus filhos de fé...
E fui visitando Cabanas e Tendas, onde multidões desfilavam, mas, surpreso
ficava, com aquela "visão" que em cada um eu "via", invariavelmente, num
canto, pitando, um triste Pai-preto chorava.
De seus "olhos" molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não
sei por quê, contei-as... foram sete. Na incutida vontade de saber, aproximeime
e interroguei-o: fala Pai-preto, diz a teu filho, por que externas assim tão
visível dor?
E Ele, suave, respondeu: estás vendo essa multidão que entra e sai? As
lágrimas contadas distribuídas estão a cada uma delas.
A primeira, eu a dei a esses indiferentes que aqui vêm em busca de
distração, na curiosidade de ver, bisbilhotar, para saírem ironizando daquilo
que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
Outra, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na
expectativa de um "milagre" que os faça alcançar aquilo que seus próprios
merecimentos negam.
E mais outra foi para esses que crêem, porém, numa crença cega, escrava
de seus interesses estreitos. São os que vivem eternamente tratando de
"casos" nascentes uns após outros...
E outra mais que distribuí aos maus, àqueles que somente procuram a
Umbanda em busca de vingança, desejam sempre prejudicar a um seu
semelhante - eles pensam que nós, os Guias, somos veículos de suas mazelas,
paixões, e temos obrigação de fazer o que pedem... pobres almas, que das
brumas ainda não saíram.
Assim, vai lembrando bem, a quinta lágrima foi diretamente aos frios e
calculistas – não crêem nem descrêem: sabem que existe uma força e
procuram se beneficiar dela de qualquer forma.
Cuida-se deles, não conhecem a palavra gratidão, negarão amanhã até que
conheceram uma casa de Umbanda...
Chegam suaves, têm o riso e o elogio à flor dos lábios, são fáceis, muito
fáceis; mas se olhares bem seus semblantes, verás escrito em letras claras:
creio na tua Umbanda, nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se
vencerem o "meu caso", ou me curarem "disso ou daquilo"...
A sexta lágrima eu a dei aos fúteis que andam de Tenda em Tenda, não
acreditam em nada, buscam apenas aconchegos e conchavos; seus olhos
revelam um interesse diferente, sei bem o que eles buscam.
E a sétima, filho, notaste como foi grande e como deslizou pesada. Foi a
ÚLTIMA LÁGRIMA, aquela que "vive" nos "olhos" de todos os "pretos-velhos";
fiz doação dessa, aos vaidosos, cheios de empáfia, para que lavem suas
máscaras e todos possam vê-los como realmente são...
"Cegos, guias de cegos" andam se exibindo com a Banda, tal e qual
mariposas em torno da luz; essa mesma LUZ que eles não conseguem VER,
porque só visam à exteriorização de seus próprios "egos"...
"Olhai-nos" bem, vede como suas fisionomias são turvas e desconfiadas;
observai-os quando falam "doutrinando"; suas vozes são ocas, dizem tudo de
"cor e salteado", numa linguagem sem calor, cantando loas aos nossos Guias e
Protetores, em conselhos e conceitos de caridade, essa mesma caridade que
não fazem, aferrados ao conforto da matéria e gula do vil metal. Eles não têm
convicção.
Assim, filho meu, foi para esses todos que viste cair, uma a uma, AS SETE
LÁGRIMAS DO PAI PRETO! Então, com minha alma em pranto, tornei a
perguntar: não tens mais nada a dizer, Pai preto? E daquela "forma velha", vi
um véu caindo e num clarão intenso que ofuscava tanto, ouvi mais de uma
vez...
"Mando a luz da minha transfiguração para aqueles que esquecidos pensam
que estão... ELES FORMAM A MAIOR DESTA MULTIDÃO"...
São os humildes, os simples; estão na Umbanda pela Umbanda, na
confiança pela razão.... SÃO OS SEUS FILHOS DE FÉ.
São também os "aparelhos", trabalhadores silenciosos, cujas ferramentas
chamam-se DOM e FÉ, e cujos "salários" de cada noite... são pagos quase
sempre com uma só moeda, que traduz o seu valor numa única palavra – a
INGRATIDÃO...
W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani)
Fonte:
SILVA, Woodrow Wilson da Matta e. Umbanda de todos nós. 9. ed. São
Paulo, SP: Ícone, 1996.

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